11 de outubro de 2011

A Casa de Vidro - Parte 3

Não sabia o que dizer. Após tantos meses, depois de tantas coisas, ele volta dizendo que me ama. Eu não sabia se eu devera acreditar mas eu conhecia ele. E embora minhas amigas pudessem me chamar de uma completa idiota por acreditar nele, era como se os olhos dele falassem o que o coração dele sentia. E nós, muito menos ele mesmo, poderia evitar isso.

Tomei mais um gole do chá e pus a xícara em cima da mesinha de madeira cor de marfim à minha frente. Silêncio. Um silencio que ao meu ver parecia um tanto quanto eterno. Senti que era minha vez de falar alguma coisa. Eu apenas não sabia exatamente o quê dizer, nem ao menos o quê deveria ser dito. Respirei fundo, contei mentalmente até dez.

- Você me disse isso há cinco meses e um dia depois me deixou. - disse, por fim. - Acha que eu deveria acreditar dessa vez?

 - Sinceramente, acho que não. Se você fosse uma menina esperta não me deixaria nem ao menos entrar para beber chá com biscoitos. - disse ele rindo. - Mas você me ama, e eu sei disso. E você ao mesmo tempo consegue ver que eu ainda te amo apesar de tudo o que aconteceu. E você sabe que é verdade. Mas você não quer acreditar, não é? Acha que vou te deixar de novo se tentarmos pela segunda vez...

- É bem provável. - disse duramente.

- Sei que errei e estou disposto a recomeçar. Não de continuar de onde paramos. Temos que refazer nossa história. - ele sorriu.

Não falei mais nada. Nem ele. Nenhum de nós. Bebi mais um pouco do chá e comi um biscoito. Ele imitou.

- Como vai o jardim?

- Está ótimo. Plantei mais algumas coisas... - disse servindo mais um pouco de chá na xícara dele.

- Obrigado. - disse ele se referindo ao chá. - Posso ver?

- Não há de quê. Sim, claro. Venha. - disse, me levantando.

Caminhamos para fora e nos dirigimos até o jardim que ficara atrás da casa. Algumas coisas mudaram desde que ele se fora há alguns meses. Me encarreguei de mudar a cor das rosas, agora não vermelhas e sim, troquei-as por brancas.

- Rosas brancas... Bonitas. - ele elogiou.

- Obrigada. - sorri dizendo.

- E onde foram parar as vermelhas? Eram as suas preferidas... - perguntou ele, curioso.

- Joguei fora. - dei de ombros e continuamos caminhando pelo jardim.

- Mas porquê? Nossa, você gostava tanto delas...

- Assim como gostava de tantas outras coisas antigamente, mas tive que deixá-las para trás. O tempo passa e algumas coisas, não todas, mas apenas as mais frágeis envelhecem.

- O que está escondendo?

- Nada. São apenas flores.

- Flores mortas?

- Flores... Apenas flores.

Andamos mais alguns passos, outras flores, de vários tipos passavam e nós não percebíamos.

- Foi difícil ter que te deixar... Eu ainda te amava. - ele continuou.

- Você não tinha. Mas você fez.

- Eu... Eu fui estúpido. - lamentou-se

Sentamos num banquinho branco de parque que tinha no meio do jardim. Sem perceber, a escuridão da noite estava tomando conta do crepúsculo que nos rodeava enquanto continuávamos conversando sobre nossas vidas.

- Como vai as suas garotas? - falei rindo.

- Sinceramente, só tenho uma garota e ela está bem na minha frente. E para ser mais sincero ainda,  você sabe que desde que nos conhecemos, eu melhorei e muito.

- Tem ido à igreja? - perguntei aleatoriamente.

- Tenho. Duas vezes por semana e às vezes até quatro! - disse rindo num tom de espanto consigo mesmo.

- Fico feliz. É o melhor que você faz. - sorri.

- Estou tentando melhorar. E você também vai às vezes. Por que não vai com mais frequência?

- Na verdade, estou indo em outra igreja agora. De vez em quando apareço lá, você sabe, é difícil por que eu nasci e cresci lá.

- Não deveria ter saído.

- Não saí.

- Então por que não vai mais?

- Estou tentando me estabilizar novamente.

- Está sendo difícil?

- Não mais.

Nos calamos e observamos as estrelas por um momento. A noite chegara e o frio também. Ele tirou o casaco e jogou por cima de mim e me puxou para entre seus braços, me colocando bem junto de seu peito.

- Não precisava.

- Claro que sim. - sorriu. Sorri de volta. O céu estara limpo e repleto de estrelas. 

- Quais as suas preferidas? - disse ele apontando para o céu.

- Acho que aquelas duas ali. - apontei para duas estrelas que estavam ao norte, sobre nossas cabeças.

- Acha que elas significam algo? - disse acompanhando com os olhos.

- Não. Apenas estrelas.

- Você se tornou tão simples assim? Não há mais filosofias subliminares nas coisas? Tudo se tornou apenas?

- Sim. Apenas flores, apenas estrelas, apenas amor, apenas nós dois. Sabe, desde que você se foi, sinto que nada faz sentido. - me entreguei.

- Por que não faz?

- Porque você dava tom de vermelho aos dias cinzas.

Nos encaramos por exatos quatro segundos. O que iria acontecer? Talvez as coisas mudassem, talvez a gente continuaria seguindo em frente para não nos machucar. Talvez tudo continuaria sendo como nos últimos meses... Simplesmente apenas.

E depois, parando todos os meus pensamentos tortos, ele me beijou.


Fim.


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